Virei pai.
E não foi assim na hora do parto, quando eu vi meu filho pela primeira vez. Foi quando a Taty me falou: “Mor… deu positivo.”
Veio um frio na barriga, uma sensação estranha que só foi apagando quando ela fez o segundo teste e deu positivo de novo.
A gestação foi ótima, ela não teve nenhuma complicação. Bom, pelo menos na parte física, porque no que diz respeito a suporte médico, meu Deus, isso foi um desastre no começo!
Depois de 7 anos nos Estados Unidos, não lembrávamos que aqui no Brasil o parto é terceirizado. Descobrimos da pior forma possível da quadrilha da cesárea.
A Taty visitou alguns médicos antes de me chamar para acompanhá-la. Nesse processo ela ia me falando de suas experiências devastadoras. No dia que eu a acompanhei, tivemos talvez a experiência mais amargurante possível até então.
“Gostaríamos de ter o parto normal”, a Taty falou sem querer ofender.
“Ah, parto normal eu não faço!”, o criminoso respondeu.
Como assim? “Parto normal eu não faço!” Você não é um médico obstetra? Será que eu vim parar no açougue por engano?
Olhei na parede pra ver se tinha alguma graduação pendurada. Tinha. Fiquei confuso.
“Bom deixa eu explicar melhor”, ele falou depois que viu nossas caras de paisagem. “Imagina se você entra em trabalho de parto num final de semana. Normalmente eu vou para a minha casa na praia. Não dá pra eu sair do Guarujá e vir pra cá te atender. Mas fica tranquila que os médicos plantonistas estão lá pra te ajudar. E outra coisa, pra falar de parto normal a gente tem que esperar você completar uns 8 meses, pra ver se dá pra fazer.”
Saímos de lá com a mesma rapidez que chegamos. Estava disposto a ajudar a minha esposa no que ela escolhesse, mas pedi para que ela por favor não me convidasse mais pra nenhum outro médico.
Ajoelhei e orei. Talvez a única solução.
Acho que funcionou pois uma semana depois a Taty volta e me diz que tinha achado o médico certo. Parto sem Medo é o trabalho que o Dr. Alberto Jorge Guimarães promove em sua clínica. Pela voz da Taty eu senti que era coisa boa. Fui com ela na visita seguinte e sabíamos que tínhamos achado a pessoa e a equipe certa.
Aprendemos sobre o parto humanizado, sobre a importância de esperar o bebê ficar maduro, sobre nutrição durante e depois da gestação, tivemos acompanhamento psicológico, fizemos um curso intensivão de um dia inteiro, descobrimos como é bom ter também um pediatra humanizado e o mais importante, nos fortalecemos como casal durante um período onde um precisa muito do outro.
O Pedro Felipe veio as 19:28 do dia 29/4 de parto natural, sem anestesia, sem intervenção e sem dor de cabeça. Foi um trabalho de parto intenso de diversas horas, onde as contrações se transformaram em passos em direção aos braços do nosso filho.
Tivemos o acompanhamento de uma equipe completa composta de Doula, Obstetriz, psicóloga, nutricionista, pediatra e médico obstetra. E sabíamos desde o princípio que sempre existia a possibilidade de algum tipo de intervenção, como anestesia, fórceps, cesárea e afins, mas acima de tudo tínhamos confiança de que qualquer obstáculo seria ultrapassado naturalmente como a primeira opção.
E me entendam, não quero aqui falar mal das mulheres que fizeram cesárea. Vocês são tão mães como uma mulher que fez parto normal. As mães de cesárea são corajosas e muitas vezes até mais do que uma mulher que faz o parto normal. Muitas mães se veem numa situação onde é preciso decidir por uma cesárea inevitável. Apesar de estarem em um trabalho de parto intenso, são essas mães as únicas que sabem realmente o que é melhor para seus filhos. Acho que toda mulher que pari é uma guerreira que tem uma força que nenhum homem jamais possa entender e suportar. A minha ressalva é com o corpo médico manipulador daqui do Brasil, que faz nosso país ser o campeão mundial de cesáreas desnecessárias.
Pedro Felipe completa hoje uma semana. Ele é um bebê super saudável, que mama, caga e dorme (não necessariamente nesta mesma ordem – muitas vezes faz os 3 ao mesmo tempo). A Taty teve alta em apenas 2 dias. E a nossa maior dificuldade é conter a Taty parada, pois como ela se sente bem disposta, ela esta ansiosa para acabar logo o período de resguardo.
Porém, uma cena não sai da minha cabeça. No dia do parto, depois que a Taty havia parido, nós ficamos mais de uma hora com nosso filho nos braços. Ele mamou durante esse período por instrução do nosso pediatra. Durante esse tempo toda a equipe veio parabenizar a Taty: “Meus parabéns, você é uma guerreira!”, “Estou orgulhosa de você.”, “Você conseguiu, meus parabéns”
Essas foram as frases que eu escutei bem antes de sair da sala de parto. Eu estava radiante, o mundo havia ganhado mais cores, mais aromas e mais sons. Talvez seja por isso que eu escutei no corredor, em outra sala da parto, exatamente as mesmas frases: “Meus parabéns!”, “Você mandou muito bem”, “Eu sabia da sua competência, mas hoje você se superou”
Fiquei comovido ao saber que mais um parto havia sido um sucesso, mas um pouco decepcionado quando vi que as frases de parabenização eram proferidas para um médico que retirava suas luvas ensanguentadas, enquanto a mãe, toda anestesiada em cima da mesa olhava para seu bebê que estava logo ao lado numa incubadora. O pai já havia tirado as fotos e se perdia lá em cima nas escadas.
O que me deixa muito feliz é saber que existem opções. Que apesar das dificuldades, podemos encontrar alternativas. No fundo todo pai, quer o melhor para o seu filho e graças a Deus, o Pedro Felipe veio ao mundo muito saudável e todos os dias ele cresce e se desenvolve. O amor que eu sinto por ele é inexplicável. Os meus dias mudaram da água pro vinho. Minha maior diversão é cuidar dele e da Taty. Eu passaria horas falando de como é gostoso cada segundo que eu passo com meu filho, mas preciso ir pois tenho uma fralda recheada me esperando.